quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Manuel Bandeira

Nova Poética Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido: Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito. Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama: É a vida. O poema deve ser como a nódoa no brim: Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. Sei que a poesia é também orvalho. Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade. - Manuel Bandeira

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Renda-se

Renda-se ao amor que bate à porta
Renda-se ao sorriso de um desconhecido
Renda-se aos braços abertos de um abraço
Renda-se às mais bobas notícias
Renda-se aos mais tristes olhares
Renda-se no que não é permitido
Renda-se ao irreconhecível.
Renda-se ao que é real. Ou que aparenta ser.
Mas renda-se enquanto pode!
Um dia a vida irá te render por completo
E você não terá mais escolhas, se não:
Render-se diante dela.

-Ayllane Fulco

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Personagem

Ora estava nos ares
Ora estava na terra
Oscilando em lucidez
e descompasso
Olhos atentos em desatentos
Quando calado ficava
Sua mente borbulhava palavras
Dava pra vê-las estampadas em sua áurea.

Dizia-se seguro de tudo o que sentia
Mas por dentro possui vastos sentimentos
controlados e medidos à força
Hora ou outra deixava-lhes escapar de mansinho
Sem que transparecesse por completo
Para que ninguém pudesse captá-lo por inteiro
e toda a maquiagem que se faz máscara
Sai por inteiro nestes momentos
de verdadeiro ser.

Ou seja, não era tão frio
Nem tão canalha como poderiam supor
Sentia mais intensamente
Falava mais pausadamente
Do que poderiam imaginar
Tinha um mundo intacto
E inabitável em mente.

-Ayllane Fulco

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Na areia do mar

Caberá às estrelas a luz
Que ilumina seu olhar
Tão contemplativo
Em pontinhos claros
Refletindo o luar
De uma noite fria.

Sentado na areia do mar
Pensamentos calados
Dou-lhe uma lira por eles
Para desvendar os seus segredos
O dono de minha inspiração
De minha respiração acelerada.

Olhando-o de cá
Parece que já faz parte do cenário
Mar, lua, ondas e você
Sentando olhando o vai-e-vem das ondas
Deixando o cabelo dançar com a brisa
Sereno como uma canção lírica.

Permaneça intacto aqui
Sentado na areia junto ao mar
Como uma boa lembrança
Um velho sonho meu
Verossímil em detalhes.

Mas se quiser partir
Que não se vá para tão longe
Para que possa segui-lo com os olhos
Deixa-me vê-lo dançando no ar
Ou simplesmente parado
Respirando... Mas deixa-me ver
Nem que seja de longe
De mansinho.

- Ayllane Fulco

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Trilhos

Andando pelos trilhos
Corpo em linha tênue
Buscando equilíbrio
Corpo e alma
Pensamentos
Vagando pelo vagão
Mente vazia
Escuridão.

Olhos fechados
Mente em branco
Oscilando
No espaço
Imaginário
Mundo opaco
Oco.

Silêncios que preenchem
O vazio da mente
O coração cansado
Uma vida sem rumo
Sem chão
Em vão.

O sopro lhe refresca
A pele ressecada
Em um rosto ríspido
A janela aberta
Circula ar
Vento.

Um corpo sentado
Esperando por nada
Incertezas se instalam
Sem incomodá-lo mais
Não sente
Só respira

Lentamente.

-Ayllane Fulco

domingo, 28 de julho de 2013

Perdido no tempo

Não posso te cobrar nada
Assim como não se cobra
Por aquilo que nunca se teve.

Vendo o meu passado
Dançar pelos meus olhos
Percebo que as imaginações
Criaram formas e feições
Até fazer-me acreditar ser real.

E todos caminham por aí
Enquanto eu fiquei por aqui
Esperando migalhas de um amor
Inventado!

E aí você se dá conta
Que tudo mudou diante dos seus olhos
E só você ficou imóvel
Perdido no tempo
Que não vai voltar!

Então me diz:
Valeu a pena esperar?
Por aquilo que não existe
Pelo tempo que não vai voltar.

- Ayllane Fulco

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Escrevendo

Cálido coração
Calada paixão
Salta do peito
Escorrega em mão.

Mãos frágeis
Debruçadas no papel
Respinga pingos
De caneta e fel.

Palavras escorregadiças
Desfazem-se sem cerimônias
Brincam no espaço
Saltam do pensamento.

-Ayllane Fulco

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Pequena morena

Quando fores me procurar
Há de encher o pulmão de ar
Gritar, gritar... Eco da própria voz
E silêncio, ruídos silenciosos.

Quando perceber que virei breu
Eu já estarei entregue ao desconhecido
E poderá imaginar-me perto
Como nunca estive.

E quando minhas mãos não tocarem mais as tuas
Saberás que foi minha despedida
Meu último silêncio numa noite fria
Meus últimos risos em alto som.

E por fim,
Pequena morena
Saberás que o mundo te pertence

Assim como a luz às estrelas.

-Ayllane Fulco

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Recadinho

Não queira me decifrar, não me (ou se) busque em meus textos, não subentenda o que está camuflado, não tire conclusões precipitadas, não queira saber sobre o quê ou quem escrevo... Pois quanto mais achar que me conhece, mais vai se perder em conclusões erradas... Obrigada.
- Ayllane Fulco

domingo, 14 de julho de 2013

Amor antigo

A distância persiste em separar
Extremidades opostas
Vidas contrárias
Almas solitárias.
 
Dois amantes em desencontros
Persistem no tempo
Ora lastima a ausência
Ora à covardia.
 
Dois corações embriagados
Ziquezaqueando em linha tênue
Entre amor e ódio
Luz e escuridão.
 
Sujeito dramático
Arrisca à risca
Um amor inventário
Ou será que não?
 
As horas se passam
Os anos correm lentamente
E os dois permanecem vivos
Vivendo um amor antigo.

- Ayllane Fulco

sábado, 13 de julho de 2013

Ninguém, alguém


Ser meu

Meu ser

Tão meu

Que não

Sou de mais

ninguém.

 

Egoísmo meu

Todo eu

Que não me importo

Com mais

Ninguém.

 

 O meu eu

É meu

Não é teu

Sou mais eu

Do que alguém.

 

O silêncio meu

Não é teu

Melhor só

Do que com alguém.
- Ayllane Fulco

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Elo


Singelo elo entre ir e vir

Um pacto de esmero

Que deixai fluir

Uma porta entreaberta

Uma corrente solta

Algemas divididas

Faz de uma, duas pulseiras

Livres e desimpedidas.

- Ayllane Fulco.