sábado, 16 de julho de 2011

Decomposição

Estou em decomposição
Ninguém vê meu estado
Nem ouve o meu choro
Lembranças são como enzimas
Aceleram o meu processo de decompor;

Por favor, guardem suas hipocrisias
Não me façam cometer o pecado do desamor
Eu, rio perante chuva
Engulam suas palavras tortas
E não demonstrem afeto.

O meu desejo não é efêmero
Quero fugir velozmente
Surgir em dimensões nunca vistas
Serei como a teoria das cortas
Teoria. Nada certo.

Não me prendam em suas míseras observações
Não enjaulem os meus sonhos como brisas de pensamentos teus.
Sou ventania à procura de chuva, tempestades
Quero provocar o espanto e admiração
Aqui não é o meu lugar, e ai de quem prender-me.

Suas palavras de maldição me farão surgir
Transcriptase reversa
Estou em decomposição
Depois restará apenas a ressurreição (ressurgir)
Estrela morre, mas deixa o seu brilho por anos.

Ayllane Fulco

Hoje me sinto órfã

Porque hoje me sinto órfã
Vejo uma “mãe” vidrada em seu pêndulo consolo
Fecha os olhos diante de seus reflexos
Porque o ouro lhe trás o tempo perdido.

Vejo uma mãe admirar o que tanto resmungou
Porque seu fruto conseguiu uma bata-branca
Ele aceita ser admirado, pois desde outrora
Espera por esse momento.

E todos os meus pensamentos de nojo
Deslizam como água entre meus dedos
Enquanto percebo uma cicatriz entre minha carne e alma
Mas ninguém há de notá-la...

Ayllane Fulco

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Noite

Há coisas que acontecem e ficam no escuro
Que nem os olhos conseguem ver
Nem os ouvidos alcançam o som de uma lágrima.

Momentos de ficção
Lembranças, lembranças
Que embalam meu sono.

Lágrimas que saltam dos meus olhos
Caladas e tímidas
Que ardem em minha face

Pensamentos, memórias, histórias
Que não me deixam dormir
Me lançam no mais profundo “eu”.

Mas só aqui no claro
Consigo me recompor
Pondo meu íntimo, momentos e noites
Em um papel.

Ayllane Mayara

Tua face

Preciso lhe ver de perto
Olhar em teus olhos
Tocar a tua face
Sentir teu coração.

A luz dos teus olhos me emana
Liberta-me das dúvidas
No momento em que te vejo
O mundo pára.

Vôu nas palavras
No vento que me leva ao teu rumo
Na estrada que se encontra com a tua
E no olhar que se invadem.

Talvez sejam apenas palavras
Que voam ao vento
No mar sem fim
E vagam de noite ao dia.

Mas as palavras voltam até a mim
Usando-me a escrevê-las
Libertando-as
E assim lhes dando vida.

Mas e a minha vida?
Será que ainda a tenho?
Talvez a tenha deixado ao vento
E agora vago nas palavras.

Ayllane Mayara

Traga-me uma bebida

Traga-me uma bebida
Não encha minha caneca de amor
Amor, amor, perdição
Deixe-me viver (livre), antes de entregar-me a morte
Bebo cada gole desesperadamente
Tentando aliviar minha ansiedade.

Não ofereça aquele seu velho conselho
Permaneça apenas servindo-me êxtase
Até eu perceber que há duas luas no céu
E quem se importa com a dor?
Quando posso apenas encher o copo
Brincar de “zig-zag” com a vida (e morte).

Mais uns drinks
Para apagar o que arde em meu peito
Suplico mais doses de esquecimento
Um, dois... Sete...Cinco...
As ordens trocam de sentidos
As visões se abalam entre o real e imaginário.

A ânsia ressalta em meu estômago
Procuro um lugar desesperadamente
Libertar o meu motivo de fascínios
O companheiro da noite, de tantas noites
Não me convenço que ela acabou
Haverá mais uma rodada de drinks e vômitos.

Meu amigo ajude-me a sentar
Convenhamos, não há mal nisso
Sou apenas um homem afoito
Afogado entre bebidas e amor
Devaneios de memórias oferecidos pelos goles
Mas não julgue: pobre vítima do sentimento traiçoeiro.

Ponha-me no canto do chão, até dormir
Sono, sono, escuro, o nada... Por muitas horas
Até levantar-me com a ressaca
E as lembranças voltarem à tona
Mas sempre há uma garrafa ao lado
O consolo dos dias seguintes.

Ayllane Fulco

Pensamentos...

Hipócrita é aquele que tem medo de se perguntar
Porque questiona sua própria resposta
Sua alma tão incrédula
Perdida em suas verdades.

Ayllane Mayara

Por que teria de rimar?

Se eu vou escrever o que sinto
Por que teria de rimar?
Se a vida é feita de pedaços desproporcionais
E tão pouco tenho a preocupação do estético.

Palavras são sentimentos humildes
Que saltam tão velozmente
Incapazes de procurar irmãs fonéticas
Pra rimar o primeiro com o terceiro verso.
 
Não sou capaz de lhes conter
E nem tão pouco aprimorá-las
Elas têm sentimentos meus
Que fora expresso naquele momento.

Não posso mudar o que foi escrito
Nem muito menos o que senti
São elas tão pobres em sua composição
Mas ricas em vida.

De que adianta tanta beleza
Se não houvesse sentimento?
Se fossem forjadas
E nem vividas por mim?

Aceitem ou deixem
Não as forcem a sair
Façam das tuas palavras livres
Sem regras pra viver.

Timidez

A beleza nos olhos conservados
Aflitos, misteriosos
Pensamentos incapazes de serem lidos
Escondidos sobre um rosto olhando o chão.

O menino busca se prender em seu mundo
Invisível, intocável
Sendo seu próprio narciso
Fechado, trancado sobre sua timidez.

Caminha desproporcionalmente
Com tanta pressa que se destaca entre os demais
Cabeça baixa, olhos perdidos procurando o nada
Sendo ela sua necessidade de busca.

O que me encanta ou engana
Envolve-me, é o mistério dos seus pensamentos
Seus olhos sem reflexo, cabisbaixo
Seu sorriso meio torto, entre o real e o fictício.

Risos inesperados que desabrocham com tanta graça
Que explodem velozmente a beleza de um verdadeiro sorriso
Tentando ser contidos entre os dentes, que teimam a obedecer
Tento acertar tuas imaginações, o mistério me envolve novamente.
 
Ayllane Mayara

Traga-me a maçã

Tragam-me urgentemente a maçã
Já não aguento não ter a nitidez da vida
Tudo passa por desapercebido
Se é para entregar-me, será por completa.

Com marcas, cicatrizes e borrões de lápis
Se não pode ser igual, será o oposto
Nada pela metade
Pelo simples ato de ser.

Não sou, não fui, nem serei
Tudo não passou de ideologias surreais
Não me encontrei em meus pensamentos
Lastimo que nunca estive por lá.

Não me julgue
Não quero me culpar pelos seus pensamentos
Se puder, esqueça-me no passado
Pois sou o presente.

O presente de Pandora
Traga-me a maçã
Antes que seja tarde
Amanheça e caia em esquecimento.

Traga-me a maçã
Pois o singelo não me convêm mais
Sou a nova face da lua
A estrela que explodiu.

Traga-me a morte
Convenhamos, há mais lucro
Não quero te convencer
Só preciso da minha permissão.

Ayllane Fulco

Liberdade Ilusória

A onde estão as tuas leis?
Onde está tua ética?
Fora colocada longe das urnas
Você elegeu o ladrão que te rouba.

Somos culpados dos lobos que nos cercam
Devoram nossa carne, nossa roupa, nossa casa
O que ganhamos não é terço do que merecemos
E o que você dá não sobra nenhum centavo.

Somos filhos do futuro corrompido
Geração da liberdade ilusória
Somos obrigados a votar
A sermos aliados do crime.

Tanta gente com fome
E comida jogada fora
Doença, injustiça, miséria
Voluntária, batendo na porta.

Se as leis foram criadas pra por ordem
E por que tanta desordem?
O pobre rouba um pão, é preso
O político rouba o Estado e o roubo não é comprovado.

Somos filhos, filhos do pecado capital
Nação marcada por desgraça
Cultura ameaçada
Índios que lutam pra história não ser apagada.

Os portugueses invadiram nosso território
Com papéis, tratados, achando que é seu direito
Nossos direitos, a onde estão eles?
O único que nos resta é o do silêncio.

Estou cansado de conter meu grito entre os dentes
Desde que Brasil é Brasil, e gente não é gente
Somos cobaias, em teste do governo
Cheios de agrotóxico, vivendo sonhos alheios.

Ayllane Mayara

Respira, inspira, transpira

Respira, inspira, transpira... Inspiração
Tudo me foge do tato, do olfato e audição
Não me resta nada, apenas dizer o nada
Que me corrói por inteiro
Feito sombra costurada aos pés
Não me abandona
Nunca me deixa só
É a única palavra que me resta
E não podem roubá-la em mim

Enquanto eu não tiver nada, terei tudo
Pois quando tenho muito, me sinto com nada
E quando me resta algo, eu permaneço vivo
Sentindo, sofrendo
Mas quando me satisfaço
Já não vejo sentido em mim
Ou até mesmo interesse de viver
Idealizo-me por completo
Perco o significado da vida.

Todos sonham com tudo
E quem tem “tudo” sente falta de ter falta
Quem há de explicar tamanha ironia?
Mendigo as migalhas do silêncio
Quando estou só, sinto que não há como perder quem não tenho

Vivo trapaceando os sonhos da população
Faço graça, piada com teu choro
Que mal há no nada?
Se pudesse ao menos permanecer calado
Ouvindo, respirando, farejando o nada
Saberia do que estou falando
E do que sinto quando estou frente a frente comigo mesmo
Sem interrupções, propagandas, intervalos, maquiagem
Com nada, nada, nada... É tudo o que preciso.

Ayllane Fulco

Hoje estou debilitada


Porque hoje estou debilitada
Uma garrafa me acertou em cheio a cabeça
Gás lacrimogêneo
E uma facada no peito.

Hoje eu estou debilitada
Meu nariz está escorrendo
Meus lábios cortados
Olhos inchados.

Hoje estou debilitada
Querendo encher a cara
Pra matar meu vício
O que me corrói.

Hoje estou debilitada
E ninguém há de se importar
Hoje morri um pouco mais
E ninguém há de notar.

Hoje estou debilitada
Estou preste a morrer-ressuscitar
Ter outro nome, outro endereço
Hoje eu quero deixar de existir.

Ayllane Fulco

Arte

A arte consiste na forma que se desliza o pincel
Nos olhos do escultor
Nas mãos marcadas por sentimentos transversos
A admiração ingênua do observador.

Retalhos, pedaços, espaços
Cada qual com seu tamanho, uma marca
Constitui uma fração, a parte de um todo
Moído pelo eu – lírico.

Há quem diga ser Picasso
Ou um simples traço
A arte tão misteriosa, isolada, única
Emana dos olhos poéticos.

Audácia aos que entram em êxtase
Arte um tanto abstrata
Revela-se de uma forma exclusiva, individual
Sendo realista com cada olhar crítico.

Ayllane Fulco

Pégaso

Palavras não me decifram
Versos não me compõem
Nem tudo o que se vê é real
Nada é eterno; indecifrável.

 
Ver e não enxergar,
Tocar e não sentir;
Irreal ou concreto?
Apenas antítese.

 
Andando em lados opostos
Alma gêmea contrária
Anjo bem, anjo mal
Anjos imperfeitos.

 
Manipulado por si próprio
Cruel efeito da mente
Sufocando teu espírito
Corroendo teus pensamentos.

 
Sangue que penetra em minhas veias
Induz teu veneno ao coração
Em pequenas dosagens
Matando-o aos poucos.

Ayllane Fulco