segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Minha farsa

Estou ausente
Esperando o meu “eu” sofrer emancipação
Agora, sentada nesse banco
Percebo que está só não é uma virtude.

A multidão se aproxima com argumentos impertinentes
Para seguir livre pego carona com a incerteza
Deixando pra trás o meu passado
E guardando as lembranças no caixote.

Mas não se preocupe
Estou adaptada ao frio
Sou caçadora da minha própria sorte
Do destino que me traiu.

Meus sentimentos são minhas vítimas
Meus sonhos tornaram-se meu consolo
O momento êxtase.

Meu desespero é contido entre os dentes
Hipocritamente expresso em uma gargalhada
Os olhos inchados de tanto chorar
Foram forjados com uma maquiagem.

O que mais me surpreende
É a maneira com que reajo
Tão naturalmente
Que já me sinto familiarizada.

Para enfatizar minha fúria
Sou flagrada pela minha própria farsa
E para meu desespero
Ainda restam três horas.

Ayllane Fulco

sábado, 13 de agosto de 2011

Egoísmo

Cansei de escrever palavras mudas
Caladas e tímidas
Escondidas no meu eu.

Versos inacabados
Que representam meu espelho
Tantas vezes sem ponto final.

Como posso escrever
Se minhas mãos perderam o dom de rir e chorar?
Se meus passos, muitas vezes, são contrários em meu caminho...

A luz no fim do túnel
Tão forte que ardem meus olhos
E a escuridão me acolhe melhor.

Sou eu tão egoísta por mim
Tão presa a uma realidade surreal
Onde apenas há o meu eu lírico.
Ayllane Fulco

Cicatrizes

Mostro-lhe agora a nova face
Diante do espelho ofusco
Mostro-lhe as cicatrizes
Entre minha carne e espirito.

Meus versos já não soam mais amor
Meus olhos estão secos, ardendo
Suas palavras tortas levaram minha alma
O que eu sentia. Restando o nada.

O que mais lastimo é a sua bruta soberba
Egoísmo, o modo que se apodera da minha sensibilidade
Tenho que me manter estável
Distante das suas armadilhas.

Resistir a tentação de sofrer
Mesmo sabendo o dia de amanhã
Fecho os olhos e imagino o dia perfeito
Sou flagrada pelo cinismo.

Até quando dura abstinência?

Ayllane Fulco

domingo, 7 de agosto de 2011

Desculpa

Quem dos dois cometeu o crime de amar
E de destruir em curto intervalo de tempo?
Quem dos dois jogou uma pedra ao mar
Apenas para vê-la afundando?
Quem dos dois deitava-se e dormia resignado
Adaptado, sem desejo de mudança?

Sou eu tão solta de mim
Que mal posso prender-me a algo
Acabo sentindo dispnéia
Por isso, perdoe-me por minha ousadia
De querer mais do que me oferece
Amar (e sofrer), sentimento que tenho medo.

Desejo a imunidade aos sentimentos
Prefiro ficar fora-de-mim à prender-me-a-algo
Por que minha vida corre feito rio
Não pode ser contida, ou ter forma definida
Água pura, que sai da fonte, sem devaneios
Sem reparos ou conformidades.

Meu bem, desculpa por meu egoísmo
As palavras tortas e arrogância
São traços meus mal esculpidos
Moldados em uma alma frígida
E uma carcaça que engana.

Sofro mutações
Nunca, momento algum, sinta certeza sobre mim
Posso ser um rio, não ser contido, ou
Posso ser uma escultura, moldada, de fundo vazio.

Ayllane Fulco

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Despertem!

Socorro, socorro. Estou sendo bombardeada!
Onde estão os bons hippies?
Geração passada, os jovens se importavam com a liberdade
Fundiam idéias e conceitos
Iam à luta, desarmados.

Jovens, não joguemos fora as conquistas!
Fechar os olhos diante de um movimento glorioso
É manter a alienação, renegar as raízes
Deixemos de sonhar com o exterior, podemos moldar aqui.

Preocupo-me com a forma que individualismo se propaga
Devo admitir que muitas vezes sou contaminada com tal doença
Vivemos em uma ditadura indiretamente
E nós somos os conformistas de tamanha desordem.

Estão com uma arma em nossa cabeça
Gritam: “dinheiro, dinheiro!”
E todos nós forjamos a verdade
Enquanto nos roubam, nos tornamos cidadãos
Ou melhor, cúmplices?

“levem, levem (o dinheiro). Mas deixai-me vivo”
O que nos engana é que viver não é um fato, é um ato
Os hippies continuam vivos
Enquanto morremos e somos esquecidos.

Despertem, ainda há tempo!
Não iremos ajudá-los a cavar nossa sepultura
Quando um dia, por força natural, eu “morrer”
Estará no meu epitáfio: viverei minha imortalidade.

Ayllane Fulco

Pecado


Pecado existe?
Se analisarmos, o pecado varia de cultura e região
Seria ele uma variável?
Enquanto o erro se dirige a mim
Ao outro é apenas um ato, neutro.

A regra ao pecado está na assimilação de valores pessoais
Somos nós os criadores de tamanha ordem que seguimos
Ou tentamos.

De antemão, peço desculpas a mim
Desculpa, desculpa, desculpa
Por ter permitido me machucarem
Por meu conformismo...

Não cabe a vocês me culparem,
Apenas a si mesmos
E só resta a mim, se me perdoou ou não.


Ayllane Fulco