sábado, 30 de junho de 2012

Às vezes é preciso...

Às vezes é preciso
Deixar o vinil tocar
Abrir a boca e cantarolar
Sentir a brisa sem se preocupar
Se dar ao luxo de chorar
Às vezes é preciso
Fechar os olhos
Ouvir a chuva
Forjar histórias
Flutuar
Deitar-se no campo
Contar estrelas
Ver o tempo passar
Sem ter hora pra voltar
Abrir os braços
Sentir os cabelos voar
Se contorcer de preguiça
E amar.

Ayllane Fulco

FOGO

FOTOS TIRADAS POR MIM



                                
                                                              (água + fogo)

Ayllane Fulco

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A netinha e sua avó

        A neta pergunta a avó:

- Vovó porque a pele tão enrilhada?

- Minha netinha, o tempo tirou de mim a vivacidade, sugou-me até fazer de mim uma folha
desgastada.

-Vovó, porque os cabelos brancos?

-Minha netinha, é pra ficar mais próximo da auréola dos anjos.

-Vovó porque a perca da memória?

-Minha netinha, é para que seja feito de mim um novo ser, como uma criança.

          Julhinha, sua neta, sem entender o que sua avó dizia, se aprofundava em seu colo, aproveitando-se dos carinhos ternos de sua querida avó.

Ayllane Fulco

Alice

      Alice, menina desajeitada e inocente, estava entregue a qualquer destino, o que a levasse primeiro. Fora andando sozinha pelo mundo, até que avistou algo hipnotizante que lhe despertou interesse, era tão lúcido como areia movediça. Aquilo atraía pensamentos, mistérios que assolavam a menina curiosa, que corria desesperadamente, sentindo seu coração palpitar veloz junto com sua respiração ofegante. Havia uma fenda entre a menina e o seu desejo, que devido a sua falta de atenção ou pela perca de reflexo, a fez cair. E foi caindo no escuro, contornando-se por adjetivos quaisquer que lhe era imposto, aproximou-se do chão, até que sentiu seu corpo fadigado tocá-lo. Com as mãos trêmulas tocou seu rosto e eis que algo havia mudado, tocou as vestes e a alma e percebeu que já não era mais a mesma menina desajeitada e inocente de outrora.

Ayllane Fulco

Dona Enália e Nina


Sentada na varanda vejo dona Enália costurando um cachecol vermelho, colocando o papo em dia com sua velha amiga Nina, as conversas são sempre as mesmas, um filho que casou, uma perna que doeu, a pobre vítima da novela... Nina, sua amiga, viúva, esquecida pelos filhos e diabética, se esquece por um momento de todo sofrimento e sorri com as histórias de Dona Enália, mesmo sendo essas tão monótonas. E eu ali, sentada de intrusa, pensando comigo mesma o quão triste é a vida de Nina, um senhora de quase 70 anos, que outrora fora doutora, dona de belos cabelos louros, possuía olhos de Capitu que atraia qualquer homem, mas ela hoje está ali, sozinha, apenas gastando o resto de vida em uma conversa fiada... A noite vem chegando, o sono visitando as senhoras, que há cada piscar de olhos meus era um bocejo captado, até que Dona Enalia se despede de sua amiga, calça os chinelos, se abraça em seus agasalhos e sai mancando, xingando baixinho os joelhos, que já não eram mais jovens. Eu continuei parada, sentada, enquanto elas fechavam a porta de casa.
Ayllane Fulco

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Mulher Morena

Mulher morena olhando o chão
Passado sofrido
Uma filha que a despreza
Um pai que a deixou
Um amor do passado
Perdido em outro espaço.

E ela aqui, desiludida
Implorando um prato de comida
Um pouco que remédio
Para dopar-se
E esquecer por um momento
Da vida e morte.

Mulher morena olhando o chão
Cujos sonhos foram gastos
Com o passar do tempo
E com as rugas que iriam surgindo
Os dentes que foram caindo
Junto com o prazer de viver.

Pobre mulher morena
Que se deleita em pedras
Sobre o peito uma espada
Sobre as mãos um trapo
Feridas incrustadas na alma
Memórias fadigadas.

Ayllane Fulco

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Paulo Coelho

- Se o que você encontrou é feito de matéria pura, jamais apodrecerá. E você poderá voltar um dia. Se foi apenas um momento de luz, como a explosão de uma estrela, então não vai encontrar nada quando voltar. Mas terá visto uma explosão de luz. E só isto já valeu a pena.


O Alquimista, por Paulo Coelho

Imagem Insana

Imagem insana intensa insônia,
Ironia impulso intolerável instinto,
Imutável inalterável imagem insana
Inválida, isolada intrigado íntimo,
Imatura irrelevância impetuosa
Indesejável inveja
Inoportuna, instável, intacta.

Ayllane Fulco

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sentir Efêmero

“Hoje eu sinto a vida me perturbar, ou melhor, as palavras que lutam em saltar velozmente, não consigo contê-las. Chega um momento em que me entrego total a essa força sublime, que faz de mim apenas um objeto de escrita, um mero coadjuvante em meio a sua vivacidade.  É quando me pergunto em que ponto vou chegar, mas logo me vem em mente escrever sem pretensão, sem suborno, sem planos. Há um sentimento maior que eu, é como um destino que não me pertence, apenas me usa, me leva a dá contorno às palavras, esse sentimento é minha inspiração, tão passageira, me deixando as vezes só, na improvisação. Teimo para que volte nesses períodos de solidão, sinto que sozinha não tenho força, nem tão pouco criatividade ou conteúdo.  É o sentir efêmero que me preenche...”
Ayllane Fulco

...

“ A minha infância se resume em três: três de outubro, às três horas, três da sorte/azar, três irmãs, mês três de 2004...”

Era um dia...

 “ Um dia o céu estava azul, ar fresco, aroma das rosas em plena primavera, um sol de verão, um gosto de sorvete na boca, um pedido de namoro. Outro dia o céu estava triste, nublado, o ar tão fadigado, já não havia aroma das rosas, pois havia chegado o outono, o sol havia se escondido entre nuvens escuras, o sorvete virara líquido e o pedido... era de fim, de esquecimento.”

Ayllane Fulco

O Punhal

Cravando o punhal no peito
O rio se despeja na face
Molhando, alagando e definhando
O ser. O completo (complexo) ser.

O punhal sangra lágrimas
Corta e acusa
Culpa a desgraça da má sorte
Que desafia a coragem da morte.

O punhal bate no peito
Ameaça o fim
Um corte, um adeus
O último suspiro.

O punhal é feito conhaque
Traz o alívio, o ávido
Percorre o mais íntimo
Latejando o líquido viscoso.

O punhal é banhado a memórias
Desgraças de devaneios
Que não cessam
É sempre um afoito.

O punhal corta a garganta
Despeja o rio até a última gota
Sangra o sereno deserto
Deixando-o mais vazio do que já era.

O punhal, o suspiro, o adeus.

Ayllane Fulco

Mariana Aydar - Palavras não falam

"Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras..."

Mariana Aydar - Não foi em vão