Dona Enália e Nina
Sentada na
varanda vejo dona Enália costurando um cachecol vermelho, colocando o papo em dia com sua velha
amiga Nina, as conversas são sempre as mesmas, um filho que casou, uma perna
que doeu, a pobre vítima da novela... Nina, sua amiga, viúva, esquecida pelos
filhos e diabética, se esquece por um momento de todo sofrimento e sorri com as
histórias de Dona Enália, mesmo sendo essas tão monótonas. E eu ali, sentada de
intrusa, pensando comigo mesma o quão triste é a vida de Nina, um senhora de
quase 70 anos, que outrora fora doutora, dona de belos cabelos louros, possuía olhos
de Capitu que atraia qualquer homem, mas ela hoje está ali, sozinha, apenas
gastando o resto de vida em uma conversa fiada... A noite vem chegando, o sono
visitando as senhoras, que há cada piscar de olhos meus era um bocejo captado,
até que Dona Enalia se despede de sua amiga, calça os chinelos, se abraça em seus
agasalhos e sai mancando, xingando baixinho os joelhos, que já não eram mais
jovens. Eu continuei parada, sentada, enquanto elas fechavam a porta de casa.
Ayllane Fulco
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