quinta-feira, 28 de junho de 2012

Dona Enália e Nina


Sentada na varanda vejo dona Enália costurando um cachecol vermelho, colocando o papo em dia com sua velha amiga Nina, as conversas são sempre as mesmas, um filho que casou, uma perna que doeu, a pobre vítima da novela... Nina, sua amiga, viúva, esquecida pelos filhos e diabética, se esquece por um momento de todo sofrimento e sorri com as histórias de Dona Enália, mesmo sendo essas tão monótonas. E eu ali, sentada de intrusa, pensando comigo mesma o quão triste é a vida de Nina, um senhora de quase 70 anos, que outrora fora doutora, dona de belos cabelos louros, possuía olhos de Capitu que atraia qualquer homem, mas ela hoje está ali, sozinha, apenas gastando o resto de vida em uma conversa fiada... A noite vem chegando, o sono visitando as senhoras, que há cada piscar de olhos meus era um bocejo captado, até que Dona Enalia se despede de sua amiga, calça os chinelos, se abraça em seus agasalhos e sai mancando, xingando baixinho os joelhos, que já não eram mais jovens. Eu continuei parada, sentada, enquanto elas fechavam a porta de casa.
Ayllane Fulco

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