quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adriana Calcanhotto - Do fundo do meu coração

Cinzas

Escrevo esta carta para dizer-lhe adeus
Peço que leve consigo nossos retratos
Emoldurados em suas lembranças
Peço que guarde as palavras que nos machucam
Pelo menos essa noite
Leve consigo aqueles meus poemas
Feitos sob medida pra você
Junto com as canções que lhe dediquei
E por um segundo meu sorriso triste
Invadirá as suas lágrimas
Mil pedaços de mim
Perdidos no espaço
Transformam-se em sons
E por um segundo e nada mais, tudo será... Cinzas.

Ah, meu bem!
Como dói abrir meu coração
E se entregar ao momento de desespero
Se amar era confiar aonde foi que errei?
E por um segundo tudo será vazio
As lágrimas levarão suas súplicas
O tempo confirmará o quanto amei você
Mas hoje eu não posso voltar
Peço que guarde esse adeus
Antes que...
Por um segundo tudo se transforme em cinzas.

Ayllane Fulco

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Afundei

Minha maior raiva é dos meus olhos
Que se recusaram a enxergar
É com esses mesmos olhos que choro
Que lastimo minha insensatez.

Como pude confiar em retalhos?
Entregar-me ao desespero tão silenciosamente
Fazer um santuário com teu nome.

Ser ingênua ao ponto de culpar-me por teus erros
De aceitar tuas súplicas de “amor”
Entreguei-me ao luxo da ignorância.

Com uma venda em meus olhos o recebi
Fui andando desajeitado
Tropeçando no escuro
E caí. Caí feito pedra ao mar, afundei.

Afundei em tuas palavras
Afundei na confiança que entreguei
Afundei em meus passos
Afundei em mim mesma.

Peço-ME desculpas
Por ter enfrentado o universo
Ter aberto mão de meus princípios
E entregue minha vida em tuas mãos.

Ayllane Fulco

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

sábado, 12 de novembro de 2011

Receba-o

Receba meu amor, o que ainda restou
Dou-lhe por inteiro o que ficou fracionado
Mas dou de coração aberto
Sem mágoas ou receio.

Não menospreze o que ainda é teu
Esse pequeno amor é minha única relíquia
Que te entrego embrulhado
Posto em uma cesta de palha.

 Aperto a campainha com a esperança
Que você abra a porta com carinho
E receba (adote) meu presente
Como um filho-surpresa.

Pois este pequeno amor
É-me como um filho
Que o alimento
Com pequenas lembranças tuas.

Meu pequeno amor
Pedaço, frágil, retalho
Peço-lhe que o receba
Pois este já não cabe mais em mim.

Ayllane Fulco

Implícito

Enquanto o mundo desaba
Enquanto a criança chora por fome
Enquanto a meretriz vira artista
Enquanto a chuva invade casas
Eu evito ser crítico.

Enquanto o amor tudo supera
Enquanto o amor tudo espera
Enquanto o “viveram felizes para sempre”
Eu evito ser romântico sentimentalista.

Enquanto criam novos remédios
Enquanto há milhares de nascimento
Enquanto há novas empresas
Enquanto há carros luxuosos
Eu evito ser contemporâneo.

E eu evito, acima de tudo, ser explícito.

Ayllane Fulco

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Os 10 livros que recomendo

1 – O mago – biografia de Paulo Coelho (Fernando Morais)


2 – O símbolo perdido (Dan Brown)


3 – Não conte a ninguém (Harlan Coben)


4 – O morro dos ventos uivantes (Emily Brönte)


5 – Anjos e Demônios ( Dan Brown)


6 – Princesa Sultana (JEAN SASSON)


7 – Sinais de alerta (Stephen White)


8 – A estrada da noite (Joe Hill)


9 – O caçador de pipas (Khaled Hosseini)


10 – Brida  (Paulo Coelho)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Relicário

Narciso hipnotizado em frente ao mar
Meu bem, não caia
Cuidado com o reflexo diante do espelho
Nem sempre é a face verdadeira.

Não percebe que sofre por opção?
Esqueceu que foi a sua escolha?
Não se envenene com a ilusão do amor
Pois este jamais poderia ser cura da sua insegurança.

O medo que devora não é pior que a culpa insana
Cuidado com a formosura da face de eva
A maçã envenenada permanece intacta na mesa.

Seu relicário está aberto, correndo risco
Meu bem, cuidado com o ladrão
Ele não tem remorso do amor que você carrega.
O desdém é seu aliado
E você ainda acredita ser amor?

Falta, resta, mata e alegra...

O que me falta:
É tempo e inspiração
É uma xícara de café quente
Uma revista de fuxico
Um telefonema de um desconhecido
Um porta-retrato de nós dois.
Você.

O que me resta:
É a preguiça
É sentar em frente ao computador
É esperar o tempo passar
É ficar sentindo falta de você.
O que me mata:
É acordar de manhã cedo
É um erro de português
É tomar banho de água fria
É ficar sem você.
O que me alegra:
Comer um Mcdonalds
Tocar violão
Ouvir o som da chuva
Ler um bom livro
É ter você.
 
Tudo o que falta, resta, mata e alegra-me é...
Você


Ayllane Fulco

A Estrada

A estrada é um desvio do concreto
É feito uma caixa de fundo oco
Todas as certezas são vãs
Passageiras, inseguras. 

A estrada é feito criança
É inocente à primeira vista
Nunca se sabe ao certo
O que irá se tornar.

A estrada em que carrego é extensa
Contornada de pedras que deixei pelo caminho
É tomada por pequenos antros
Percorro sempre a pé, sem pressa.

A estrada simplesmente é... A vida.


Ayllane Fulco

Desenho - Pin Up

Ayllane Fulco

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sóis deuses

Se pudesse descobrir o tamanho poder que possui
Em um simples pensamento que o molda e envolve
O transformando em vital energia, sublime. 

A fé que possui é uma fonte
Que transmite uma perturbação, agito, ao meio
Sua capacidade de criar e destruir
Está oculto em si.

Seu corpo físico nada é do que seu templo
Sua mente é feito os céus
Sua energia é seu maná.

Os pensamentos possuem massa em forma de energia
Sendo assim, possuem força de atração
E somos nós então capazes de criar e moldar o mundo,
A nós e aos outros.

É certo que, a força que deve exercer precisa de tamanho peso
Unir vários pensamentos em prol de algo
O divino está em como, a maneira que usa seu poder
Sendo esse oculto aos incrédulos.

Nunca esquecer: De sua mente emanará luz

Ayllane Fulco

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Minha farsa

Estou ausente
Esperando o meu “eu” sofrer emancipação
Agora, sentada nesse banco
Percebo que está só não é uma virtude.

A multidão se aproxima com argumentos impertinentes
Para seguir livre pego carona com a incerteza
Deixando pra trás o meu passado
E guardando as lembranças no caixote.

Mas não se preocupe
Estou adaptada ao frio
Sou caçadora da minha própria sorte
Do destino que me traiu.

Meus sentimentos são minhas vítimas
Meus sonhos tornaram-se meu consolo
O momento êxtase.

Meu desespero é contido entre os dentes
Hipocritamente expresso em uma gargalhada
Os olhos inchados de tanto chorar
Foram forjados com uma maquiagem.

O que mais me surpreende
É a maneira com que reajo
Tão naturalmente
Que já me sinto familiarizada.

Para enfatizar minha fúria
Sou flagrada pela minha própria farsa
E para meu desespero
Ainda restam três horas.

Ayllane Fulco

sábado, 13 de agosto de 2011

Egoísmo

Cansei de escrever palavras mudas
Caladas e tímidas
Escondidas no meu eu.

Versos inacabados
Que representam meu espelho
Tantas vezes sem ponto final.

Como posso escrever
Se minhas mãos perderam o dom de rir e chorar?
Se meus passos, muitas vezes, são contrários em meu caminho...

A luz no fim do túnel
Tão forte que ardem meus olhos
E a escuridão me acolhe melhor.

Sou eu tão egoísta por mim
Tão presa a uma realidade surreal
Onde apenas há o meu eu lírico.
Ayllane Fulco

Cicatrizes

Mostro-lhe agora a nova face
Diante do espelho ofusco
Mostro-lhe as cicatrizes
Entre minha carne e espirito.

Meus versos já não soam mais amor
Meus olhos estão secos, ardendo
Suas palavras tortas levaram minha alma
O que eu sentia. Restando o nada.

O que mais lastimo é a sua bruta soberba
Egoísmo, o modo que se apodera da minha sensibilidade
Tenho que me manter estável
Distante das suas armadilhas.

Resistir a tentação de sofrer
Mesmo sabendo o dia de amanhã
Fecho os olhos e imagino o dia perfeito
Sou flagrada pelo cinismo.

Até quando dura abstinência?

Ayllane Fulco

domingo, 7 de agosto de 2011

Desculpa

Quem dos dois cometeu o crime de amar
E de destruir em curto intervalo de tempo?
Quem dos dois jogou uma pedra ao mar
Apenas para vê-la afundando?
Quem dos dois deitava-se e dormia resignado
Adaptado, sem desejo de mudança?

Sou eu tão solta de mim
Que mal posso prender-me a algo
Acabo sentindo dispnéia
Por isso, perdoe-me por minha ousadia
De querer mais do que me oferece
Amar (e sofrer), sentimento que tenho medo.

Desejo a imunidade aos sentimentos
Prefiro ficar fora-de-mim à prender-me-a-algo
Por que minha vida corre feito rio
Não pode ser contida, ou ter forma definida
Água pura, que sai da fonte, sem devaneios
Sem reparos ou conformidades.

Meu bem, desculpa por meu egoísmo
As palavras tortas e arrogância
São traços meus mal esculpidos
Moldados em uma alma frígida
E uma carcaça que engana.

Sofro mutações
Nunca, momento algum, sinta certeza sobre mim
Posso ser um rio, não ser contido, ou
Posso ser uma escultura, moldada, de fundo vazio.

Ayllane Fulco

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Despertem!

Socorro, socorro. Estou sendo bombardeada!
Onde estão os bons hippies?
Geração passada, os jovens se importavam com a liberdade
Fundiam idéias e conceitos
Iam à luta, desarmados.

Jovens, não joguemos fora as conquistas!
Fechar os olhos diante de um movimento glorioso
É manter a alienação, renegar as raízes
Deixemos de sonhar com o exterior, podemos moldar aqui.

Preocupo-me com a forma que individualismo se propaga
Devo admitir que muitas vezes sou contaminada com tal doença
Vivemos em uma ditadura indiretamente
E nós somos os conformistas de tamanha desordem.

Estão com uma arma em nossa cabeça
Gritam: “dinheiro, dinheiro!”
E todos nós forjamos a verdade
Enquanto nos roubam, nos tornamos cidadãos
Ou melhor, cúmplices?

“levem, levem (o dinheiro). Mas deixai-me vivo”
O que nos engana é que viver não é um fato, é um ato
Os hippies continuam vivos
Enquanto morremos e somos esquecidos.

Despertem, ainda há tempo!
Não iremos ajudá-los a cavar nossa sepultura
Quando um dia, por força natural, eu “morrer”
Estará no meu epitáfio: viverei minha imortalidade.

Ayllane Fulco

Pecado


Pecado existe?
Se analisarmos, o pecado varia de cultura e região
Seria ele uma variável?
Enquanto o erro se dirige a mim
Ao outro é apenas um ato, neutro.

A regra ao pecado está na assimilação de valores pessoais
Somos nós os criadores de tamanha ordem que seguimos
Ou tentamos.

De antemão, peço desculpas a mim
Desculpa, desculpa, desculpa
Por ter permitido me machucarem
Por meu conformismo...

Não cabe a vocês me culparem,
Apenas a si mesmos
E só resta a mim, se me perdoou ou não.


Ayllane Fulco

sábado, 16 de julho de 2011

Decomposição

Estou em decomposição
Ninguém vê meu estado
Nem ouve o meu choro
Lembranças são como enzimas
Aceleram o meu processo de decompor;

Por favor, guardem suas hipocrisias
Não me façam cometer o pecado do desamor
Eu, rio perante chuva
Engulam suas palavras tortas
E não demonstrem afeto.

O meu desejo não é efêmero
Quero fugir velozmente
Surgir em dimensões nunca vistas
Serei como a teoria das cortas
Teoria. Nada certo.

Não me prendam em suas míseras observações
Não enjaulem os meus sonhos como brisas de pensamentos teus.
Sou ventania à procura de chuva, tempestades
Quero provocar o espanto e admiração
Aqui não é o meu lugar, e ai de quem prender-me.

Suas palavras de maldição me farão surgir
Transcriptase reversa
Estou em decomposição
Depois restará apenas a ressurreição (ressurgir)
Estrela morre, mas deixa o seu brilho por anos.

Ayllane Fulco

Hoje me sinto órfã

Porque hoje me sinto órfã
Vejo uma “mãe” vidrada em seu pêndulo consolo
Fecha os olhos diante de seus reflexos
Porque o ouro lhe trás o tempo perdido.

Vejo uma mãe admirar o que tanto resmungou
Porque seu fruto conseguiu uma bata-branca
Ele aceita ser admirado, pois desde outrora
Espera por esse momento.

E todos os meus pensamentos de nojo
Deslizam como água entre meus dedos
Enquanto percebo uma cicatriz entre minha carne e alma
Mas ninguém há de notá-la...

Ayllane Fulco

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Noite

Há coisas que acontecem e ficam no escuro
Que nem os olhos conseguem ver
Nem os ouvidos alcançam o som de uma lágrima.

Momentos de ficção
Lembranças, lembranças
Que embalam meu sono.

Lágrimas que saltam dos meus olhos
Caladas e tímidas
Que ardem em minha face

Pensamentos, memórias, histórias
Que não me deixam dormir
Me lançam no mais profundo “eu”.

Mas só aqui no claro
Consigo me recompor
Pondo meu íntimo, momentos e noites
Em um papel.

Ayllane Mayara

Tua face

Preciso lhe ver de perto
Olhar em teus olhos
Tocar a tua face
Sentir teu coração.

A luz dos teus olhos me emana
Liberta-me das dúvidas
No momento em que te vejo
O mundo pára.

Vôu nas palavras
No vento que me leva ao teu rumo
Na estrada que se encontra com a tua
E no olhar que se invadem.

Talvez sejam apenas palavras
Que voam ao vento
No mar sem fim
E vagam de noite ao dia.

Mas as palavras voltam até a mim
Usando-me a escrevê-las
Libertando-as
E assim lhes dando vida.

Mas e a minha vida?
Será que ainda a tenho?
Talvez a tenha deixado ao vento
E agora vago nas palavras.

Ayllane Mayara

Traga-me uma bebida

Traga-me uma bebida
Não encha minha caneca de amor
Amor, amor, perdição
Deixe-me viver (livre), antes de entregar-me a morte
Bebo cada gole desesperadamente
Tentando aliviar minha ansiedade.

Não ofereça aquele seu velho conselho
Permaneça apenas servindo-me êxtase
Até eu perceber que há duas luas no céu
E quem se importa com a dor?
Quando posso apenas encher o copo
Brincar de “zig-zag” com a vida (e morte).

Mais uns drinks
Para apagar o que arde em meu peito
Suplico mais doses de esquecimento
Um, dois... Sete...Cinco...
As ordens trocam de sentidos
As visões se abalam entre o real e imaginário.

A ânsia ressalta em meu estômago
Procuro um lugar desesperadamente
Libertar o meu motivo de fascínios
O companheiro da noite, de tantas noites
Não me convenço que ela acabou
Haverá mais uma rodada de drinks e vômitos.

Meu amigo ajude-me a sentar
Convenhamos, não há mal nisso
Sou apenas um homem afoito
Afogado entre bebidas e amor
Devaneios de memórias oferecidos pelos goles
Mas não julgue: pobre vítima do sentimento traiçoeiro.

Ponha-me no canto do chão, até dormir
Sono, sono, escuro, o nada... Por muitas horas
Até levantar-me com a ressaca
E as lembranças voltarem à tona
Mas sempre há uma garrafa ao lado
O consolo dos dias seguintes.

Ayllane Fulco

Pensamentos...

Hipócrita é aquele que tem medo de se perguntar
Porque questiona sua própria resposta
Sua alma tão incrédula
Perdida em suas verdades.

Ayllane Mayara

Por que teria de rimar?

Se eu vou escrever o que sinto
Por que teria de rimar?
Se a vida é feita de pedaços desproporcionais
E tão pouco tenho a preocupação do estético.

Palavras são sentimentos humildes
Que saltam tão velozmente
Incapazes de procurar irmãs fonéticas
Pra rimar o primeiro com o terceiro verso.
 
Não sou capaz de lhes conter
E nem tão pouco aprimorá-las
Elas têm sentimentos meus
Que fora expresso naquele momento.

Não posso mudar o que foi escrito
Nem muito menos o que senti
São elas tão pobres em sua composição
Mas ricas em vida.

De que adianta tanta beleza
Se não houvesse sentimento?
Se fossem forjadas
E nem vividas por mim?

Aceitem ou deixem
Não as forcem a sair
Façam das tuas palavras livres
Sem regras pra viver.

Timidez

A beleza nos olhos conservados
Aflitos, misteriosos
Pensamentos incapazes de serem lidos
Escondidos sobre um rosto olhando o chão.

O menino busca se prender em seu mundo
Invisível, intocável
Sendo seu próprio narciso
Fechado, trancado sobre sua timidez.

Caminha desproporcionalmente
Com tanta pressa que se destaca entre os demais
Cabeça baixa, olhos perdidos procurando o nada
Sendo ela sua necessidade de busca.

O que me encanta ou engana
Envolve-me, é o mistério dos seus pensamentos
Seus olhos sem reflexo, cabisbaixo
Seu sorriso meio torto, entre o real e o fictício.

Risos inesperados que desabrocham com tanta graça
Que explodem velozmente a beleza de um verdadeiro sorriso
Tentando ser contidos entre os dentes, que teimam a obedecer
Tento acertar tuas imaginações, o mistério me envolve novamente.
 
Ayllane Mayara

Traga-me a maçã

Tragam-me urgentemente a maçã
Já não aguento não ter a nitidez da vida
Tudo passa por desapercebido
Se é para entregar-me, será por completa.

Com marcas, cicatrizes e borrões de lápis
Se não pode ser igual, será o oposto
Nada pela metade
Pelo simples ato de ser.

Não sou, não fui, nem serei
Tudo não passou de ideologias surreais
Não me encontrei em meus pensamentos
Lastimo que nunca estive por lá.

Não me julgue
Não quero me culpar pelos seus pensamentos
Se puder, esqueça-me no passado
Pois sou o presente.

O presente de Pandora
Traga-me a maçã
Antes que seja tarde
Amanheça e caia em esquecimento.

Traga-me a maçã
Pois o singelo não me convêm mais
Sou a nova face da lua
A estrela que explodiu.

Traga-me a morte
Convenhamos, há mais lucro
Não quero te convencer
Só preciso da minha permissão.

Ayllane Fulco

Liberdade Ilusória

A onde estão as tuas leis?
Onde está tua ética?
Fora colocada longe das urnas
Você elegeu o ladrão que te rouba.

Somos culpados dos lobos que nos cercam
Devoram nossa carne, nossa roupa, nossa casa
O que ganhamos não é terço do que merecemos
E o que você dá não sobra nenhum centavo.

Somos filhos do futuro corrompido
Geração da liberdade ilusória
Somos obrigados a votar
A sermos aliados do crime.

Tanta gente com fome
E comida jogada fora
Doença, injustiça, miséria
Voluntária, batendo na porta.

Se as leis foram criadas pra por ordem
E por que tanta desordem?
O pobre rouba um pão, é preso
O político rouba o Estado e o roubo não é comprovado.

Somos filhos, filhos do pecado capital
Nação marcada por desgraça
Cultura ameaçada
Índios que lutam pra história não ser apagada.

Os portugueses invadiram nosso território
Com papéis, tratados, achando que é seu direito
Nossos direitos, a onde estão eles?
O único que nos resta é o do silêncio.

Estou cansado de conter meu grito entre os dentes
Desde que Brasil é Brasil, e gente não é gente
Somos cobaias, em teste do governo
Cheios de agrotóxico, vivendo sonhos alheios.

Ayllane Mayara

Respira, inspira, transpira

Respira, inspira, transpira... Inspiração
Tudo me foge do tato, do olfato e audição
Não me resta nada, apenas dizer o nada
Que me corrói por inteiro
Feito sombra costurada aos pés
Não me abandona
Nunca me deixa só
É a única palavra que me resta
E não podem roubá-la em mim

Enquanto eu não tiver nada, terei tudo
Pois quando tenho muito, me sinto com nada
E quando me resta algo, eu permaneço vivo
Sentindo, sofrendo
Mas quando me satisfaço
Já não vejo sentido em mim
Ou até mesmo interesse de viver
Idealizo-me por completo
Perco o significado da vida.

Todos sonham com tudo
E quem tem “tudo” sente falta de ter falta
Quem há de explicar tamanha ironia?
Mendigo as migalhas do silêncio
Quando estou só, sinto que não há como perder quem não tenho

Vivo trapaceando os sonhos da população
Faço graça, piada com teu choro
Que mal há no nada?
Se pudesse ao menos permanecer calado
Ouvindo, respirando, farejando o nada
Saberia do que estou falando
E do que sinto quando estou frente a frente comigo mesmo
Sem interrupções, propagandas, intervalos, maquiagem
Com nada, nada, nada... É tudo o que preciso.

Ayllane Fulco

Hoje estou debilitada


Porque hoje estou debilitada
Uma garrafa me acertou em cheio a cabeça
Gás lacrimogêneo
E uma facada no peito.

Hoje eu estou debilitada
Meu nariz está escorrendo
Meus lábios cortados
Olhos inchados.

Hoje estou debilitada
Querendo encher a cara
Pra matar meu vício
O que me corrói.

Hoje estou debilitada
E ninguém há de se importar
Hoje morri um pouco mais
E ninguém há de notar.

Hoje estou debilitada
Estou preste a morrer-ressuscitar
Ter outro nome, outro endereço
Hoje eu quero deixar de existir.

Ayllane Fulco

Arte

A arte consiste na forma que se desliza o pincel
Nos olhos do escultor
Nas mãos marcadas por sentimentos transversos
A admiração ingênua do observador.

Retalhos, pedaços, espaços
Cada qual com seu tamanho, uma marca
Constitui uma fração, a parte de um todo
Moído pelo eu – lírico.

Há quem diga ser Picasso
Ou um simples traço
A arte tão misteriosa, isolada, única
Emana dos olhos poéticos.

Audácia aos que entram em êxtase
Arte um tanto abstrata
Revela-se de uma forma exclusiva, individual
Sendo realista com cada olhar crítico.

Ayllane Fulco

Pégaso

Palavras não me decifram
Versos não me compõem
Nem tudo o que se vê é real
Nada é eterno; indecifrável.

 
Ver e não enxergar,
Tocar e não sentir;
Irreal ou concreto?
Apenas antítese.

 
Andando em lados opostos
Alma gêmea contrária
Anjo bem, anjo mal
Anjos imperfeitos.

 
Manipulado por si próprio
Cruel efeito da mente
Sufocando teu espírito
Corroendo teus pensamentos.

 
Sangue que penetra em minhas veias
Induz teu veneno ao coração
Em pequenas dosagens
Matando-o aos poucos.

Ayllane Fulco